O ano de 2011 está indo embora com um cheiro de nostalgia no ar. Afinal, foi na colheita deste ano que o Brasil bateu o recorde mundial de produtividade média de soja, ao produzir 51,9 sacas de 60 quilos por hectare.
E como neste ano o preço médio de comercialização superou a marca de R$ 40 por saca na maioria das praças, chegando a R$ 50 no Sul do país, os produtores alcançaram uma das melhores rentabilidades da história.
Mas 2011 está terminando repleto de nuvens escuras no céu. Além de os preços da soja no mercado brasileiro continuarem caindo em plena entressafra -e dando sinais de que podem se aproximar dos menores valores do ano, registrados em abril-, eles acenam para lucratividade menor em 2012.
Diversos motivos apontam para a possibilidade de um 2012 menos lucrativo. O primeiro e mais importante é o mercado financeiro mundial.
Com a crise da dívida de países europeus e o enfraquecimento do euro, investidores migram para o dólar e tiram sustentação das commodities, num movimento oposto ao observado a partir do início de 2009.
Os fundos de investimento, que comandam grande parte da tendência do mercado desde o início da financeirização das commodities, ocorrida em meados da década passada, registravam, na última semana, a menor posição comprada desde março de 2009, com contratos equivalentes a 17 milhões de toneladas na Bolsa de Chicago.
Há pouco menos de cem dias, quando as cotações da soja superavam US$ 14 por bushel (27,2 quilos), eles tinham 40 milhões de toneladas. A queda foi resultado da aversão ao risco inspirada pela crise europeia.
Os fundamentos de oferta e de demanda também não ajudam. Pelo lado do consumo, o ritmo das exportações de soja dos EUA, que acabam de terminar a colheita e têm grande volume a comercializar, continua muito devagar.
Os negócios fechados nos dois primeiros meses da temporada comercial 2011/12, iniciada em setembro, não chegam a somar 20 milhões de toneladas, ante 30,7 milhões há um ano. A China, que até o mesmo período de 2010 já tinha comprado 19,1 milhões de toneladas, agora tem apenas 13,8 milhões comprados.
Pelo lado da oferta, o plantio caminha a passos largos na América do Sul, o que também dificulta o avanço das cotações, ainda mais levando-se em conta que o continente está aumentando a área cultivada com soja.
Para a saudade de 2011 ser completa, só falta o La Niña resultar em estiagem e quebra de safra no Sul do Brasil e na Argentina. Na safra passada, apesar do temor inspirado pelo fenômeno, as condições climáticas só ajudaram as lavouras.
FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.
Fonte: Folha de São Paulo - http://www.biodieselbr.com/noticias/em-foco/mercado-soja-2011-saudades-221111.htm
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